a falta
intensifica o desejo
motor dos passos
(instabilidade irracional)
o inconsciente
deus da plenitude
do desejo
éter arcaico,
sopro da alma
função psíquica necessária
figura o mundo
através da experiência.
a imagem
– um arquétipo na dança da morte –
é suscitada pela reminiscência,
pelo sonho
traz sensações,
(des)prazeres
endogênicos
exogênicos
base das memórias
cisão interna
adornei meu antolho
pra não sair do rumo
adorei o meu modo
de não cair no fundo
do poço que era eu
criei asas
voei para os céus
das minhas vontades
voltei ao pó
ao mangue
à lama
à incerteza
do concreto
de ser salva
da fome
do risco
do câncer
do tempo
do deus homem e sagrado
que fizeram e me deram
e eu criei como um punidor
junto do meu próprio perdão
meu sistema de prisão
esse incômodo lateja
como um relógio
que não me deixa esquecer
do baú que, aberto,
projeta reflexo
[o espelho é convexo]
e essa é a parte
difícil de tragar
é o que eu preciso matar
é o que vai me absorver
não sei dizer coisas bonitas
não sei olhar
nos seus olhos
nem nos olhos de ninguém
gosto dos ladrilhos
do asfalto
do chão
é mais fácil
é mais simples
é foda
o vazio
a ausência
esse coágulo.
tento me afastar
e só me aproximo
das formas instáveis
dos vínculos mutáveis
e certos
como um desfibrilador
num corpo sem vida
o tempo não tem memória
mas tem fome
e devora voraz
tudo o que vem pela frente
e deixa restos
nos cantos
nas coisas
na vida
quando se vê
passou tempo demais
porque o tempo não rodeia
vai rei, reto
roendo rápido
segundos, minutos
horas, oras
verdades
o tempo é exercício
de conformidades
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Marília Carreiro é formada em Letras pela Ufes e idealizadora da Editora Pedregulho. Autora de AmorS e outros contos e Opala Negra, publica poemas-percepções nas stories do seu Instagram @mariliacafe.
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